Por: Artur Rigotti - Profissional de Educação Física.

 

     Quando me foi proposto o desafio de trabalhar com uma criança com autismo pensei “ E AGORA” o que é que eu faço pois o assunto era relativamente novo e em 22 anos de experiência com crianças típicas trabalhando com futsal jamais havia me deparado com um desafio desta envergadura.

     Comecei pesquisar e pouco do que se encontrava era aplicável a situação de trabalho que a criança exigia, então resolvi fazer algo diferente ao que a grande maioria das literaturas preconizava, escolhi fazer exatamente tudo aquilo que eu faria com uma criança que não estava no espectro, adequando as atividades a idade e as particularidades do meu novo amigo aluno.

     O início foi um pouco complicado como era de se esperar, propus retira-lo do ambiente no qual ele já estava familiarizado e  leva-lo até um ginásio de esportes onde o espaço é relativamente amplo comparado as salas terapêuticas a acústica era totalmente diferente e todos os demais fatores, como o translado, os elementos fora do ginásio tais como: areia, brita, árvores, escadas, grama e o que mais completava o espaço físico. O melhor que podemos fazer foi explorar gradativamente buscando uma adequação sensória motora que permitisse a intervenção proposta, explorando ao máximo seu grau de atratividade, o contato com a areia, com a brita, a grama e os outros estímulos.

     Na parte interna do ginásio de esportes começamos usando o material que havia a disposição tais como: cadeiras, bancos, mesas, postes de vôlei, redes, bolas, bambolês, pneus e outros. E a partir deste material começamos o processo de estimulação da criança buscando tornar cada atividade prazerosa e muitas vezes com uma compensação através de algo que ele adorasse que fizesse para ele uma conecção agradável com a atividade física, no caso especifico  do nosso aluno deitado dentro de uma rede de futsal solta e embalá-lo alguma vezes  o que ele adora fazer até hoje. No decorrer do trabalho fomos desenvolvendo as valências físicas, psíquicas e motoras sem nunca se descuidar do aspecto emocional o qual considero a  grande chave para o sucesso de qualquer trabalho pois é imprescindível que haja um comprometimento não só profissional mas principalmente pessoal.

Após esta primeira etapa fizemos feed back com os pais e traçamos quais seriam os objetivos do trabalho com a criança no caso específico do João andar de bicicleta, andar de skate, jogar futsal, melhorar todas as valências http://www.achaten-suisse.com/ físicas, motoras visando principalmente sua acomodação sensorial e melhoria na qualidade de vida do mesmo.

     Novamente, com os objetivos básicos pré-estabelecidos reiniciamos a terapia, para aprender a andar de bicicleta, ele era estimulado a se arrastar sobre um banco, depois gatinhando, caminhando em pé sobre ele, caminhando sobre uma corda no chão, sobre os postes de vôlei no chão, o entendimento do movimento da bicicleta, o empurrar a bicicleta e virá-la com as rodas para cima para movimentar os pedais, o andar em cima sendo segurado e empurrado, o deixar os pés nos pedais o movimento de pedalar o equilíbrio necessário, a utilização da direção, as curvas os freios e uma série de fragmentos que tornaram o objetivo possível, devendo  residir no profissional uma grande leva de paciência e boa vontade pois nessa atividade por ex: investimos quase um ano mas valeu a pena pois o orgulho de ver o resultado do seu trabalho estampado na satisfação da criança, no brilho do seu olhar  e na felicidade dos pais que nada mais querem que seus filhos levem uma vida próxima dos padrões típicos e não façam nada de extraordinário mas somente aquilo que eles enquanto pais almejam desde  sua concepção. O trabalho desenvolvido com o João Pedro teve muitos avanços na área motora, psíquica e cognitiva, sendo que estas conquistas só se tornaram possíveis graças ao comprometimento e ao trabalho primoroso de uma equipe multidisciplinar e ao respaldo que é dado por parte de seus pais. Durante a realização da maioria das atividades contamos com a participação de uma criança típica para estimular ainda mais e demonstrar as atividades propostas, tornando mais fácil o entendimento e a execução das mesmas.

     Existem algumas máximas que devem ser sempre lembradas e uma delas é que só se aprende a fazer fazendo, experimentando, adequando sem perder o bom ânimo e a coragem, tendo em mente que é uma pessoa como qualquer outra e sua vida merece todo seu respeito e dedicação e nunca deve ser vista como uma fonte de dinheiro fácil e inesgotável. Pois geralmente os pais se encontram tão fragilizados que estão á mercê das pessoas inescrupulosas e descomprometidos que possuem no financeiro seu único interesse.

     Aconselho a quem vai trabalhar com autista que procure famílias, pais e mães que convivem diariamente com a situação e com certeza lhe darão um norte e uma leitura extremamente realista das situações na qual estão comprometidos, pois seus filhos são insubstituíveis e razão principal de toda sua dedicação empenho e amor incondicional. Focando sempre seu trabalho na criação e estreitamento dos laços o que tornará o seu trabalho melhor e seus resultados mais eficazes e duradouros.

     Procure sempre que possível fazer tudo que está a seu alcance para melhorar a vida da pessoa com autismo e seus familiares.

Faça a diferença deixe que Deus faça o resto.